Resumo |
A formação de trabalhadores e cidadãos no Brasil, inseridos em uma sociedade cujo desenvolvimento de forças produtivas delimita evidentemente a divisão entre capital e trabalho, traduzida pelo modelo taylorista - fordista, é constituída historicamente a partir da categoria dualidade estrutural, quando destina uma escola aos que iriam desempenhar funções intelectuais, de planejamento e surpevisão e outra aos que desempenhariam funções instrumentais, de execução. Enquanto antigamente havia a escola técnica, cuja preocupação era a formação para o trabalho, a escola atual já tem alunos trabalhadores e tem que dar conta de sua formação. As demandas e os efeitos da globalização da economia e da reestruturação produtiva, mesmo que contraditoriamente, indicam dimensões positivas como a constatação de que não há possibilidade de participação social, política e produtiva sem pelo menos 11 anos de educação escolar, sendo assim, o Ensino Médio perde o caráter de intermediador entre a educação fundamental (geral) e superior (profissional), passando a ser a última etapa da educação básica, mesmo que isto esteja distante de ser realidade em países periféricos. Desta maneira, já não se pode entender a formação profissional sem uma base sólida de educação geral. É mediante esta realidade que o Ensino Médio deverá trabalhar e tratar a sua concepção. É com a compreensão de que submeter os desiguais à igual tratamento só fará aumentar a desigualdade que a LDB, ao apontar o caráter básico do Ensino Médio, e a necessidade de assegurá-lo para todos, permite distintas modalidades de organização, inclusive a habilitação profissional, na intenção de tratar diferentemente os desiguais, de acordo com seus interesses e necessidades, para que, desta forma, possam ser iguais (eqüidade). Portanto, será necessário formular diretrizes que priorizem a formação científico-tecnológica e sócio-histórica para todos, com o objetivo de construir uma igualdade não dada no ponto de partida e que, desta forma, exige diferenciadas mediações no Ensino Médio, para que possa atender às demandas de uma clientela desigual e diferenciada. A química, juntamente com a matemática e a física integra um conjunto de disciplinas que apresentam, historicamente, um alto índice de repetência que por si justificaria o estudo das causas desse insucesso. Além disso, considerando a importância da ciência química pela sua presença ampla no cotidiano e no meio produtivo, podendo oferecer uma gama variada de opções atrativas como alternativas para propostas educacionais inovadoras. Desta forma, torna-se imprescindível pesquisar o porquê de grande parte dos alunos do ensino médio noturno obterem resultados considerados insatisfatórios na área química e/ou em outras áreas, ou se evadirem da escola antes mesmo do término de um período letivo, impossibilitando que a escola exerça o seu papel mínimo de manter incluídos os já incluídos, o que poderá fornecer elementos que permitam contribuir para a redução desses índices de exclusão. Com a intenção de investigar as relações entre a escola e a inserção dos seus alunos no mercado de trabalho, foram analisadas as representações que os jovens matriculados no período noturno, de uma escola da rede pública, situada na região metropolitana de Curitiba, têm a respeito da escola e do trabalho. Para que comparações pudessem ser realizadas, também foram analisadas as representações que os jovens matriculados no período diurno, desta mesma escola, e de um CEEBJA têm a respeito da escola e do trabalho. No que se refere à escola, foram estudadas as representações relativas à possibilidade de o conhecimento adquirido na escola responder às necessidades do mundo do trabalho, quanto às dificuldades encontradas no aprendizado de química/física/matemática e quanto à intenção de prosseguir estudando. No que se refere ao trabalho, foram examinadas as representações relacionadas à natureza do trabalho que realizam, e quantos destes alunos são trabalhadores. Numa perspectiva de pesquisa qualitativa, selecionaram-se duas escolas, o Colégio Base, localizado no centro da cidade de Campo Largo (pois é a escola onde a pesquisadora atua) e outra, um CEEBJA (pois é a escola para onde se transfere parte do alunos do ensino regular). Compuseram o universo da pesquisa trezentos e noventa e cinco alunos e oito professores, aos quais foram aplicados questionários. Os dados relativos aos alunos permitiram traçar seu perfil, realçando suas condições sócio-econômicas e também escolar. Verificou-se que a clientela de alunos do Colégio Base é de nível sócio-econômico médio-baixo; os pais dos alunos têm pouca escolaridade; a maioria dos alunos não tem vida social ativa e os hábitos de leitura são precários. Portanto, de posse destas e de outras informações, pretende-se que a Proposta de Atividade Pedagógica a ser elaborada para o Colégio Base, possa contribuir na formação pessoal e profissional deste aluno do noturno, trabalhador, de forma a ser realmente inovadora, não excludente e que guarde essas características como identidade e orientação na formação deste aluno. Neste sentido, pensa-se em construir uma Proposta de Atividade com tema geral, na intenção de que todos os professores que nela estejam envolvidos aprendam e construam coletivamente o conhecimento para que então, deste modo, possam repensar sua prática docente. É imprescindível se fazer compreender que, coletivamente (uma vez que a disciplina de Química, isoladamente, não seria capaz de resolver todos os problemas detectados), professores e alunos devem atuar como sujeitos na produção do conhecimento a ser desenvolvido, sem que este conhecimento tenha que ser, necessariamente, parte integrante de uma disciplina específica. Durante o desenvolvimento da Proposta, o importante é que os alunos tenham a oportunidade de acesso ao conhecimento totalizante do meio onde estão atuando e que venham a produzir um conhecimento até então inexistente para que possam estabelecer paralelos entre a produção de um conhecimento e a produção de sua aprendizagem.
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