O uso de analogias no ensino de Química

MÓL, Gerson de Souza
O uso de analogias no ensino de Química
Brasília/DF, Universidade de Brasília, UnB, 1999. Tese de Doutorado. (Orientador: Roberto Ribeiro da Silva).

Resumo As analogias possuem um papel importantíssimo no processo de ensino-aprendizagem. Elas estão presentes em todos os instantes de nossas vidas. No ensino de Química, e Ciências de forma geral, elas são utilizadas com o objetivo de facilitar a aprendizagem de conceitos científicos. Por isso, com freqüência, os professores de Química utilizam tal recurso em suas aulas. Na literatura científica são apresentadas inúmeras vantagens e desvantagens sobre essa utilização didática. Entre as desvantagens, destacamos a possibilidade de transferência indevida de atributos de um conceito para outro. Revisando a literatura sobre este tema, constatamos que existe uma pluralidade na forma de compreensão dos conceitos de analogia, modelo e metáfora. Com o objetivo de conhecer as concepções dos professores de Química no ensino médio da Fundação Educacional do Distrito Federal - FEDF (rede pública) sobre as analogias e como eles as utilizam em sala de aula, foi feita uma série de entrevistas (gravadas em áudio). Foram selecionados 32 participantes (num universo de 211), correspondendo a 15,2 % do total de professores de Química. Para a análise dos dados obtidos, foi desenvolvido um sistema conceitual para comparações, no qual é feita uma distinção entre alegorias, metáforas, analogias e modelos. As analogias receberam uma atenção especial e foram classificadas de acordo com três critérios distintos. Este mesmo sistema conceitual foi utilizado também para analisarmos as analogias publicadas na seção 'Applications and Analogies' do Journal of Chemical Education no período de 1932 a janeiro de 1999. A análise dos resultados exigiu uma discussão mais detalhada sobre dois critérios de classificação dos conceitos: concretos ou abstratos e científicos ou cotidianos. Diagnosticamos, em levantamentos prévios realizados junto aos professores do nosso universo de pesquisa, que os temas em que são utilizados maiores números de analogias estruturadas são: Modelo de Rutherford, Cálculos Estequiométricos, Constante de Avogadro, Fórmulas Moleculares e Ligações Químicas. Quando perguntados sobre o que faziam para esclarecer dúvidas de seus alunos sobre estes temas, 17,5 % dos professores, em média, citaram espontaneamente o uso de analogias. O tema que apresentou o maior índice foi Cálculos Estequiométricos (34,4 % de analogias citadas espontaneamente). Quando perguntados sobre o que são analogias, 68,8 % fizeram menção a comparações, coincidindo com nossa proposta de definição. Entretanto, parcelas consideráveis dos professores, equivocadamente, relacionaram analogias a temas do cotidiano (31,3 %) ou a fatos concretos (18,8 %), entre outros grupos de respostas. Foi possível determinar também que, embora 93,8 % dos professores tenham afirmado que utilizam analogias em sala de aula, 59,4 % dos entrevistados afirmaram que não vêem perigo na utilização de analogias. Este trabalho permitiu-nos constatar que o uso de analogias pelos professores é uma prática corrente. Esta prática parece estar associada à tendência atual de relacionar o ensino de conceitos científicos a situações do cotidiano. Para os professores, as analogias representam situações do cotidiano. Estes professores imaginam que essas situações são concretas e simples, em oposição aos conceitos científicos que seriam abstratos e complexos.