MENDONÇA, Paula Cristina Cardoso
Influência de atividades de modelagem na qualidade dos argumentos de estudantes de química do ensino médio
/MG, Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, 2011. Tese de Doutorado. (Orientador: Rosamaria da Silva Justi).
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Resumo |
A importância da argumentação para a educação científica e a relação da modelagem com a argumentação são aspectos destacados pela literatura. Ao atuar como professora de ensino médio, pude perceber que a modelagem favorecia a argumentação e como era influenciada por ela. Devido a esses aspectos, buscamos investigar, a partir de instrumentos específicos: (i) a qualidade dos argumentos de estudantes do ensino médio que participaram de atividades de ensino por modelagem fundamentado no diagrama Modelo de Modelagem de dois temas (ligações iônicas e interações intermoleculares); (ii) a relação de seus argumentos com as etapas do diagrama; e (iii) como a modelagem influenciou a argumentação dos estudantes. Foram coletados dados de uma turma de segundo ano do ensino médio de uma escola pública estadual. A professora já tinha experiências com atividades investigativas. Todas as atividades de modelagem foram discutidas previamente com ela. Os estudantes não tinham nenhuma experiência prévia com atividades investigativas. A coleta de dados ocorreu durante os meses de fevereiro a junho de 2009. Foram filmadas todas as aulas com o foco em três grupos, foram produzidas notas de campo e as atividades dos estudantes foram copiadas. Todos os vídeos das aulas foram transcritos e foram produzidos estudos de caso para cada um dos temas para dois dos grupos. Foi proposta a definição de argumento científico curricular. Essa definição e os argumentos de estudantes oriundos do estudo piloto fundamentaram a proposição de um instrumento para análise do nível de argumentos. Nos estudos de caso, a classificação dos níveis dos argumentos foi feita segundo a plausibilidade deles no contexto de produção. Neles, relatamos como os estudantes lidaram como dados que poderiam ser anômalos a seus modelos e como a professora conduziu as discussões. Investigamos se havia relação entre o uso de dados primários e secundários e o nível dos argumentos. Classificamos alguns atos dos estudantes em doing the lesson ou doing school e doing science com o intuito de discutir a possível relação do nível dos argumentos com a postura dos grupos em sala de aula. A análise dos estudos de caso fundamentou a discussão das questões de pesquisa. A definição do argumento científico curricular e seu uso a partir do instrumento para análise dos níveis dos argumentos mostrou-se coerente porque possibilitou analisar os argumentos durante o processo de construção de modelos. Os dados evidenciam que as atividades de ensino são adequadas quanto aos objetivos de favorecer a construção de modelos mais próximos aos curriculares, a elaboração de argumentos e a expressão de argumentos de elevada qualidade, principalmente, aquelas relacionadas às etapas 3 (teste do modelo) e 4 (avaliação do modelo) do diagrama. Na estratégia de ensino de interações intermoleculares, houve produção de mais argumentos de maior qualidade do que na de ligações iônicas, o que pode ser influência da aplicação da primeira estratégia devido aos conhecimentos e habilidades de raciocínio desenvolvidos pelos alunos. O papel da professora na condução das atividades, principalmente nas refutações aos modelos incoerentes ao curricular, foi essencial para o favorecimento da argumentação. Percebemos que não foi apenas a natureza dos dados que favoreceu o uso dos mesmos nos argumentos, mas o contexto em que eles foram analisados e a complexidade dos mesmos. O uso de dados anômalos num contexto de ensino que envolvia colaboração na produção de conhecimentos e guiado pela professora foi importante para promoção da modificação central dos modelos. O posicionamento dos grupos, assim como o uso de gestos influenciou na argumentação. O conhecimento conceitual influenciou na melhoria da qualidade dos argumentos e vice-versa. Sugerimos o uso do diagrama Modelo de Modelagem para fundamentar estratégias de ensino que visem favorecer a argumentação em outros contextos e o uso do instrumento de análise de nível de argumentos científicos curriculares em pesquisas que investiguem tais argumentos em processos de construção de conhecimento.
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