Hipóteses sobre a combustão entre os alunos do ensino médio: a epistemologia de Gaston Bachelard

PIAI, Débora
Hipóteses sobre a combustão entre os alunos do ensino médio: a epistemologia de Gaston Bachelard
Maringá/PR, Universidade Estadual de Maringá, UEM, 2007. 136p. Dissertação de Mestrado. (Orientador: Eliane Sebeika Rapchan).

Resumo A descoberta do oxigênio integra um dos maiores debates encontrados na história da Química e está vinculada à teoria lavoiseriana (MAAR, 1999). Até que essa teoria fosse proposta por Lavoisier muitas outras estiveram atreladas a uma série de noções, inclusive àquelas que ficaram conhecidas por associação aos flogistonistas, algumas delas carregadas de dogmatismo e misticismo, constituíram-se naquilo que Bachelard denominou como obstáculo epistemológico. Para Bachelard, num sentido amplo, obstáculo é algo que impede um indivíduo de progredir na esfera intelectual (BACHELARD, 1996). Neste trabalho, foram levantadas as idéias de alunos da 1ª série do Ensino Médio, sobre o processo da queima, por meio de uma série de experimentos envolvendo combustão. Os dados levantados foram analisados a partir do confronto com a epistemologia de Bachelard e debates históricos que circundaram a teoria do flogístico até o surgimento da teoria de Lavoisier. Daí resultaram algumas categorias de caráter epistemológico histórico e educacional, que foram desdobradas em subcategorias entre elas: a da experiência primeira, generalização, erro como tentativa de construção do conhecimento científico, o fogo como agente de transformação, os princípios responsáveis pela queima e considerações sobre a conservação da matéria. O erro, quando manifesto em sala de aula, é algo que não condiz com o conhecimento cientifico estabelecido. No entanto, para Bachelard, a reflexão sobre o novo, que leva sempre ao ato de conhecer e à postura adotada pelo sujeito conhecedor nesse ato de conhecer, pode ser determinante no que diz respeito ao erro e ao obstáculo epistemológico. O erro em Bachelard difere de maneira significativa do erro na forma em que estamos habituados a pensar a partir do senso comum. Para nós, o erro é visto como algo “impuro” e não premeditado e que nem deve ser considerado. A ciência em geral descarta o erro, assim como os professores, principalmente aqueles erros conceituais ou formais que são cometidos em sala de aula. Os resultados obtidos revelam que, em contato com os experimentos e sob estímulo de questões, os alunos conseguiram levantar hipóteses sobre o que acontece no processo de combustão. No entanto, quando esses alunos expressaram concepções espontâneas que mostraram-se errôneas, isso foi valorizado pois, sob a ótica bachelardiana, significa a existência do pensamento racional. O professor, como o responsável pela mediação entre o conhecimento e o aluno, pode fazer com que os estudantes superem tais dificuldades propondo situações de aprendizagem nas quais as representações falsas destes sejam colocadas em xeque, valorizando o erro com vistas à sua superação. Este processo de reflexão tem o potencial de possibilitar aos alunos uma aproximação mais eficaz do conhecimento científico.