Formação continuada de professores: ensino-pesquisa na escola

MALDANER, Otavio Aloisio
Formação continuada de professores: ensino-pesquisa na escola
Campinas/SP, Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Faculdade de Educação, 1997. 426p. Tese de Doutorado. (Orientador: Roseli Pacheco Schnetzler).

Resumo O presente trabalho insere-se no debate amplo sobre a qualidade educativa no Brasil, voltando-se para a questão da formação dos professores e mais especificamente para a formação continuada de professores em exercício. Defende-se a participação dos professores, na forma de coletivos organizadores, na definição e implementação de políticas educacionais e de melhoria do ensino, colocando-os no centro do debate, pois cabe a eles conduzirem o processo de melhoria educativa nas escolas, locus institucional da ação educativa da sociedade moderna. Superadas visões simplistas no tratamento da questão da formação continuada de professores apenas na forma de cursos de curta duração, "treinamento" à distância, ciclo de palestras e leituras, defende-se a necessidade de implantação de um processo continuado de formação como atribuição do trabalho profissional, envolvendo alocação de tempo na escola para estudos, debates, pesquisas, realização de jornadas, etc. Organizados na forma de grupos, os professores têm condições de produzir os seus programas de ensino, elaborar materiais instrucionais, assistir aos alunos, produzir e aperfeiçoar o projeto de escola, etc. A implantação de um processo assim torna-se possível à medida em que os professores assumem a sua condição de intelectuais da educação, superando a metáfora de meros transmissores de informações sobre conhecimento, arte e cultura. Como intelectuais, participam da criação e recriação cultural, artística e científica e permitem que isto aconteça junto a seus alunos. O desenvolvimento intelectual dos professores é condição de seu desenvolvimento profissional e torna-se possível se favorecidas interações entre eles, com professores e pesquisadores universitários, principalmente aqueles mais envolvidos com a formação dos novos professores nos cursos de licenciatura e pedagogia, com outros profissionais do entorno social. Organizadores na forma coletiva as interações tornam-se possíveis além de permitir veicular teorias pedagógicas e científicas e, assim viabilizar o desenvolvimento profissional e intelectual dos professores, à semelhança das condições que viabilizam o desenvolvimento profissional no meio acadêmico. O processo que se defende, para viabilizar a interação e o desenvolvimento intelectual dos professores, é a associação necessária do ensino e da pesquisa, focalizando, em primeiro momento, os conhecimentos profissionais dos professores, como o desenvolvimento de um programa de ensino de uma determinada matéria. Na produção de um programa de ensino, mediado pelos instrumentos teóricos veiculados no grupo, é possível avançar na concepção de ensino, aprendizagem, natureza do conhecimento, cultura, ciência, tecnologia, etc. O processo de formação continuada de professores, desenvolvido e defendido no presente trabalho, refere-se a um grupo de professores de química de uma escola pública estadual de Campinas e procura viabilizar a idéia do professor/pesquisador. Os dados foram produzidos nas ações desenvolvidas no grupo de estudo e pesquisa constituído na escola durante os anos de 1993 a 1995 e na observação de aulas produzidas e desenvolvidas dentro do grupo. Os registros foram feitos em fitas de áudio e vídeo e que depois de transcritos constituíram-se em material de análise para a produção da tese. Busca-se apoio teórico em autores que abordam o objeto de pesquisa em situação prática- professores de química de uma determinada escola desenvolvem o seu ensino nas aulas de química – como Jürgen Habermas, teoria da ação comunicativa, Boaventura de Souza Santos, aplicação edificante do conhecimento científico, Donald Schön, a nova epistemologia da prática, naquilo que os três autores convergem. Estes propõem a superação do atual modelo científico e tecnológico que isola os objetos de sua complexidade e das múltiplas determinações e cria soluções idealizadas que, normalmente, não são adequadas para situações práticas. Do pensamento de Vygotsky busca-se a idéia de desenvolvimento mental dos indivíduos e a permanente constituição dos sujeitos a partir da mediação da linguagem e outros instrumentos teóricos e da interação social. Para isso procuramos identificar situações de alta vivência sobre as quais as pessoas (alunos e professores de química) pudessem interagir e para as quais a criação científica e cultural já haviam criado instrumentos teóricos. Isso permitiu a criação e recriação do pensamento químico junto aos professores e seus alunos, de uma forma muito mais eficaz que nas aulas tradicionais de química.