Conhecimentos Bakairi Cotidianos E Conhecimentos Químicos Escolares: Perspectivas E Desafios

LOPES, Edinéia Tavares
Conhecimentos Bakairi Cotidianos E Conhecimentos Químicos Escolares: Perspectivas E Desafios
São Cristovão/SE, Universidade Federal de Sergipe, UFS, 2012. 250p. Tese de Doutorado. (Orientador: Bernard Charlot).

Resumo Esta pesquisa trata das possibilidades e dos desafios encontrados na efetivação do Ensino de Química no contexto da Educação Escolar Indígena junto aos Bakairi da Aldeia Aturua no Estado de Mato Grosso. Tem como objetivo geral compreender as possibilidades e desafios encontrados na efetivação do Ensino de Química no contexto da Educação Escolar Indígena junto aos Bakairi da Aldeia Aturua no Estado de Mato Grosso. Como objetivos específicos elencamos os seguintes: analisar a relação que o grupo investigado mantém com a escola e com os conhecimentos escolares , principalmente, os conhecimentos químicos escolares; entender como os discursos do cotidiano indígena e os da ciência/escola aparecem e dialogam na produção dos enunciados dos sujeitos pesquisados; identificar as possibilidades e os desafios para a construção dos conhecimentos químicos escolares nessa realidade escolar. Para se chegar ao que constatamos nesta pesquisa, contamos com este aporte teórico: a noção de cultura de Geertz, postulados de Bakhtin acerca do enunciado; a relação com o saber proposta por Charlot; com a conceito da estrutura da vida cotidiana de Hellerd, com a noção de enculturação discutida por Mortimer. Em se tratando da coleta dos dados, foram realizadas, por meio de observações, desenhos, entrevistas individuais e entrevistas coletivas. Com esses pressupostos elencamos nesta pesquisa as diferentes explicações apresentadas pelos membros da comunidade, professores e os alunos do Ensino Médio para temas explicados pela Ciência como transformação química. Escolhemos para isso a pesca com o timbó. Nesse sentido, constatamos que a relação que esses alunos e demais membros da comunidade mantêm com a escola está vinculada ao aprender a ser alguém e os conhecimentos escolares são colocados, sobretudo, em função da relação com os não indígenas. As informações veiculadas pela escola, em sua maioria, são inquestionáveis em seu campo de validação: o espaço escolar, o espaço do branco . Os conhecimentos químicos escolares são trabalhados segundo a lógica do livro didático, que traz como consequência o distanciamento entre os conhecimentos químicos e os conhecimentos bakairi cotidianos. Os enunciados dos alunos, por sua vez, evidenciaram uma busca por outras formas de explicar a pesca com o timbó e o efeito do veneno, que vão além das explicações cotidianas. Demarcaram para isso a área de validação de cada explicação. Concluímos que os conhecimentos químicos estão distantes do cotidiano escolar. A partir de seus enunciados, colocamos possibilidades para um processo de ensino que contribua para o acesso a essa dimensão cultural. Mas, ressaltamos a importância de inserir nas aulas de Ciências Naturais/Química os conhecimentos cotidianos bakairi.