BALDINATO, José Otavio
CONHECENDO A QUÍMICA: UM ESTUDO SOBRE OBRAS DE DIVULGAÇÃO DO INÍCIO DO SÉCULO XIX
/SP, Universidade de São Paulo, USP, 2016. Tese de Doutorado. (Orientador: Paulo Alves Porto).
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Resumo |
Livros de divulgação nos permitem olhar de modo peculiar para a ciência de um período, e a percepção de padrões nessas obras pode dar indícios de como certa área de pesquisa era apresentada ao público não especializado. Nesta pesquisa investigamos textos introdutórios à química publicados na Inglaterra durante a primeira metade do século XIX, que para muitos autores representa o período de maior popularidade já experimentado por esta ciência. Sob a luz da contemporânea historiografia da ciência, valorizamos o acesso a registros originais e a reconstrução de contextos, buscando critérios contemporâneos que nos permitam analisar: Qual contexto motivava a produção e o consumo desses livros de divulgação? Quais obras tiveram maior relevância no período? Qual era a visão da química comunicada pela divulgação? No âmbito do ensino, buscamos viabilizar material historiográfico que explicite o caráter dinâmico da química, além dos seus vínculos com questões sociais, econômicas, políticas e religiosas, pontuando reflexões sobre aspectos da natureza da ciência com foco na formação de professores. Nossos resultados revelam um amplo contexto de valorização das ciências naturais como ferramentas do progresso social. Dentre as obras de destaque, resenhas e críticas dos periódicos locais apontam para The Chemical Catechism, de Samuel Parkes, e Conversations on Chemistry, de Jane Marcet. Ambas foram publicadas originalmente no ano de 1806 e receberam várias reedições e traduções, sendo também adaptadas e plagiadas por outros autores. Embora apresentem estilos bem diferentes, esses textos sugerem uma visão comum da química, tratada como uma ciência: de caráter utilitário e que se aplica diretamente na resolução de problemas de interesse econômico e social; que fundamenta a construção do seu entendimento sobre a matéria nos processos de síntese e decomposição; que desperta o interesse comum pelo forte apelo sensorial dos seus experimentos; e que desvela a sabedoria divina escondida nas leis que regem os fenômenos naturais. Esta última característica revela o convívio entre os discursos da ciência e da religião nos textos de divulgação do período. Esta tese busca um diálogo com a formação de professores de química na atualidade, pontuando como um olhar histórico sobre a ciência pode propiciar reflexões de interesse no âmbito do ensino.
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