QUADROS, Ana Luiza de
Aulas no ensino superior: uma visão sobre professores de disciplinas científicas na licenciatura em Química da UFMG
Minas Gerais/MG, Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, 2010. Tese de Doutorado. (Orientador: Eduardo Fleury Mortimer).
|
Resumo |
Este trabalho traz à discussão a formação e atuação do professor universitário, considerando o contexto do seu próprio trabalho e a cultura na qual está inserido. Apesar de focar no professor de Química do Ensino Superior, as perspectivas e resultados encontrados poderiam ser considerados para todos os professores de Ciências deste nível de ensino. Considerando que a formação destes professores se dá nos Programas de Pós-graduação em Química e que o contato com teorias contemporâneas de ensino e aprendizagem é mínimo ou inexistente, chama a atenção que alguns professores são bem sucedidos em suas práticas de sala de aula, do ponto de vista dos estudantes. Nosso problema de pesquisa derivou desta percepção e, por isso, procuramos compreender melhor os saberes que estes professores mobilizam para desenvolver suas aulas. O Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Minas Gerais, por ser o local de trabalho da pesquisadora e por ter uma organização bem típica dos grandes centros de formação em Ensino Superior, foi o campo de coleta de dados. Depois de identificar e caracterizar a tipologia de aulas existentes selecionamos quatro professores bem avaliados pelos estudantes, sendo dois de cada tipo de aula: interativa e não interativa. Gravamos, para cada um dos professores selecionados, um conjunto de aulas em vídeo e fizemos a análise das mesmas num nível mais geral e, após, num nível que chamamos de microscópico, usando ferramentas analíticas apropriadas. De maneira geral, entendemos que os professores bem avaliados são aqueles que gostam de dar aulas, são organizados e que dedicam parte considerável do seu trabalho para esta atividade. Quanto à forma de trabalho, identificamos estratégias diferenciadas para os professores cujas aulas são interativas e para aqueles cujas aulas são menos interativas, que resultam em diferentes níveis de engajamento dos estudantes nas aulas. Enquanto os professores interativos usam estratégias diversas de engajamento dos estudantes durante as aulas, tornando-as mais dinâmicas pela ênfase nos atores professor e estudante e mantendo o conteúdo como mediação para a formação, os professores cujas aulas são menos interativas tendem a enfatizar os atores professor e conteúdo, mantendo o estudante numa situação passiva, durante a aula. Investigamos, ainda, os aspectos que podem ter contribuído na constituição de cada um desses professores. Encontramos indícios que nos permitiram argumentar em torno dessa constituição. Os professores interativos construíram suas práticas ancorados no contraexemplo do que vivenciaram durante a graduação, enquanto os menos interativos se pautaram no exemplo, numa prática que se aproxima da imitação da prática de professores que tiveram e que admiram. Os professores mais interativos, além disso, relatam pequenos episódios ocorridos durante a formação que nos pareceram ser o ponto de partida para desenvolver as estratégias que encontramos nas aulas. Eles desenvolveram um processo de reflexão sobre aquilo que vivenciaram durante a formação, construindo suas práticas a partir de momentos pontuais desta formação que os marcaram, tanto negativa quanto positivamente, e da experiência de atuação na sala de aula, mostrando-se sensíveis ao estudante. Consideramos, por fim, que a formação dos docentes universitários necessita de atenções urgentes. Porém, ações isoladas têm poucas chances de envolvê-los mais com as atividades de ensino tanto quanto se sentem envolvidos com a pesquisa. A maneira como as instituições de Ensino Superior estão organizadas e a cultura própria dos Químicos favorece com que estes professores não se sintam formadores de professores e percebemos que mesmo tendo sido formados e atuando por vários anos neste ambiente, os professores interativos apresentaram uma prática diferenciada dos demais. Isto foi importante tanto para pensar a formação inicial de professores da educação básica quanto a formação continuada de professores universitários.
|