GONÇALVES, Fábio Peres
A Problematização das Atividades Experimentais no Desenvolvimento Profissional e na Docência dos Formadores de Professores de Química
Florianópolis/SC, Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Educação Cientifica e Tecnológica, 2009. 245p. Tese de Doutorado. (Orientador: Carlos Alberto Marques).
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Resumo |
Este trabalho busca contribuir na sinalização de possibilidades metodológicas para abordar a experimentação como conteúdo nos processos de desenvolvimento profissional dos formadores e de formação inicial de professores de Ciências Naturais, especialmente de Química. Para tanto, investigou-se como tais processos podem colaborar na aprendizagem sobre as atividades experimentais no ensino de Ciências. Foram analisados 102 artigos, publicados em um periódico nacional, com propostas de experimentos a serem realizados, sobretudoi, na educação superior em Química. Também foram realizadas entrevistas semi¬estruturadas com professores de componentes curriculares de conteúdo específico (5) — autores de sugestões de atividades experimentais analisadas — e de componentes curriculares integradoras (5). A análise das informações qualitativas foi orientada pelos procedimentos da “análise textual discursiva”. A principal perspectiva teórica para a interpretação dessas informações foi o referencial freireano de educação. Aponta-se que a “consciência real (efetiva)” dos professores das componentes curriculares de Química é constituída por visões, como aquelas que explicitam uma crença na experimentação como promotora incondicional da motivação e da aprendizagem conceitual. De outra parte, uma “consciência máxima possível” acerca dos experimentos seria constituída por compreensões que valorizam, por exemplo, o diálogo, a “problematização” e o “erro” dos estudantes para enriquecer seus conhecimentos, bem como o cuidado com aspectos “ambientais”, como o tratamento dos resíduos gerados nas atividades experimentais. Foram indicados, igualmente, modos de favorecer a “circulação inter e intracoletiva” do conhecimento sobre experimentação no ensino de Ciências, tanto no desenvolvimento profissional dos formadores quanto na formação inicial de professores, inclusive com a identificação de “situações-limite” nesses processos, como a pesquisa em detrimento da docência, as aprendizagens pouco fundamentadas nos conhecimentos oriundos da pesquisa em ensino de Ciências e o texto de experimentação disseminado. Na continuidade, foram assinalados conteúdos relativos à experimentação no ensino de Química importantes de serem abordados, a exemplo da história e epistemologia contemporânea da Ciência. São anunciadas ainda semelhanças e diferenças entre os discursos dos docentes das componentes curriculares de conteúdo específico e daqueles das componentes curriculares integradoras — pesquisadores em ensino de Química — e, de certo modo, vislumbra-se quase paradoxalmente um determinado nível de interação entre os profissionais, de maneira que os primeiros parecem se apoiar de alguma forma no conhecimento produzido pela comunidade de pesquisadores em ensino de Química no que concerne às atividades experimentais. Todavia, isso não evita a presença de “contradições” relativas à experimentação identificadas no discurso dos docentes de Química da educação superior, a saber: a ideia da experimentação como origem do conhecimento e da experimentação como modo de comprovar um conhecimento previamente estabelecido. Com base no exposto, indicam-se possibilidades para promover o movimento da consciência real (efetiva) à consciência máxima possível, dos formadores e dos professores de Ciências Naturais em formação inicial, em torno da experimentação — na qualidade de conteúdo formativo.
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