A formação de professores de química em instituições de ensino superior do Rio Grande do Sul: saberes, práticas e currículos

FONSECA, Carlos Ventura
A formação de professores de química em instituições de ensino superior do Rio Grande do Sul: saberes, práticas e currículos
Porto Alegre/RS, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, 2014. 325p. Tese de Doutorado. (Orientador: Flávia Maria Teixeira dos Santos).

Resumo O presente trabalho situa-se no domínio da pesquisa educacional e parte da tese de que os cursos de Licenciatura em Química (CLQ) devem constituir uma (nova) racionalidade que consiga preparar profissionais para a realidade da profissão, um (novo) modo de promover a formação teórica e prática que coloque em evidência o conhecimento químico, os conhecimentos teóricos sobre Educação, a prática pedagógica específica e o viés político que concerne ao trabalho docente. Apropriamo-nos de diferentes referenciais teóricos, de acordo com os temas que foram desenvolvidos, o que incluiu os seguintes autores: Nóvoa (visões contemporâneas sobre a docência); Tardif e Lessard (saberes, identidade e trabalho dos professores); Paulo Freire (a docência como atividade política); Diniz-Pereira (modelos de formação docente); Sacristán (os subsistemas que interferem no currículo); Gatti e Barreto (categorização dos elementos que compõem a estrutura curricular dos cursos de licenciatura); Maldaner (especificidades da formação de professores de Química). Caracterizamos a pesquisa como estudo de casos múltiplos sobre a formação de professores de Química no Rio Grande do Sul, que foi desenvolvido a partir de movimentos exploratórios sobre o contexto mais imediato dos cursos de licenciatura, a produção da comunidade acadêmica relacionada ao tema, o macrocontexto educacional e o trabalho docente na Educação Básica. Com base em dados do SINAES, do ENADE e outros fornecidos pelas instituições de ensino superior, investigamos 27 cursos do estado do Rio Grande Sul que formam professores para a área de Química. Aprofundamos os casos das licenciaturas da UFRGS e da UFSM. Para isso, apresentamos os extratos analíticos da revisão documental que envolveu as grades curriculares, os projetos pedagógicos, bem como de informações que foram obtidas pela aplicação de questionários a docentes e discentes. Com base em Bardin, utilizamos a análise de conteúdo como técnica de análise das estruturas curriculares e das respostas fornecidas pelos sujeitos. Verificamos que as grades curriculares analisadas privilegiam os conhecimentos específicos de Química, havendo uma pequena participação dos outros elementos (fundamentos teóricos sobre educação e outros conhecimentos específicos para a docência) nessas estruturas. Tanto nos casos mais específicos, quanto no contexto mais abrangente da formação docente em Química, há sinalizações de que grande parte dos currículos apresenta pouca integração entre as disciplinas e que a contribuição dos cursos para o exercício profissional não tenha o alcance desejável, estando em desacordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica e com as recomendações mais atuais das pesquisas em currículo e Educação em Ciências. Como alternativa para o enfrentamento de tais problemas, acreditamos que nenhuma das diferentes racionalidades que compõe os CLQ pode ser desconsiderada: a racionalidade técnica, a racionalidade prática e a racionalidade crítica podem interagir sob tensão e constituírem-se como forças componentes dos processos formadores. De uma forma geral, quanto ao trabalho docente, nossa análise aponta dificuldades na atratividade e na permanência relativas ao quadro de profissionais do magistério, que precisam ter as condições de trabalho, carreira e salário readequadas pelo poder público e demais entidades representativas da sociedade. A pesquisa que realizamos contribui para o campo da Educação em Ciências não apenas pelo fato de expor certas inconsistências das estruturas curriculares e da realidade mais geral das licenciaturas da área de Química do Brasil, mas também por apontar criteriosamente possíveis caminhos/desafios para os cursos, os professores formadores e os estudantes (futuros professores da Educação Básica).